"Blogs: 10 anos de (r)evolução"
Silvio Meira
Professor Titular de Engenharia de Software do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco em Recife, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) e engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Jornais muito antigos, no mundo inteiro, estão em sérias dificuldades. O editor do New York Times, pra citar um dos grandes, não sabe se continuará imprimindo o jornal daqui a três anos. O que os blogs têm a ver com isso?...
Maio é o mês das noivas e abril é o mês dos blogs. Há dez anos, num dia de abril, Dave Winer começou a publicar um diário em rede que viria a ser considerado por muitos o primeiro blog. Claro que ninguém nunca saberá exatamente quem foi o primeiro, até porque muitos dos milhões de usuários que tinham páginas na web em 1997 publicavam coisas que pareciam com o que hoje nós chamamos de blog. À maioria daqueles “sites”, porém, faltava interação, a possibilidade do leitor dar sua opinião no rodapé do texto do autor, transformando cada entrada em uma discussão. Mas tudo bem: quase a totalidade dos blogs de hoje também não tem interação, seja porque a audiência não se interessa em comentar ou porque o autor não se interessa ou não tem energia para manter um diálogo com seus leitores.
Mas daqui a pouco a gente chega no hoje. Como foi o ontem desta história? Meu ponto de partida pessoal é um artigo de Steve Harnad, publicado na revista Psychological Science em 1990 (Scholarly Skywriting and the Prepublication Continuum of Scientific Inquiry) enquanto ruía a cortina de ferro. Steve defende que os mecanismos acadêmicos de publicação de resultados das pesquisas também irão passar por uma “perestroika científica” e que tal revolução na produção de conhecimento iria ocorrer porque os mecanismos clássicos de discussão informal pré-publicação dos resultados, na forma de telefonemas, encontros, cartas e mesmo emeio (em uso na comunidade científica desde a década de 80) seriam ampliados “por um novo modo de relacionamento, incomparavelmente mais amplo e sistemático em sua distribuição, potencialmente global em escala e quase instantâneo em velocidade, ainda por cima sem precedentes nas formas de interação”.
A conclusão do texto era que a interação entre os pesquisadores, através de “pré-publicações” e sua discussão na rede iria “reestruturar substancialmente” o processo de descoberta de conhecimento, através de uma (poética...) “escrita coletiva (no céu) da rede”, em uma “galáxia pós-Gutenberg”, formada por nós, pessoas, habilitadas pela rede e seu software. Errado ele não estava e tinha visto, logo na partida, as possibilidades da web.
Talvez valha a pena lembrar que a web não nasceu por acaso. Sir Tim Berners-Lee concebeu a web (“teia”, como em “teia de aranha”), sobre a base da então elementar internet, como um mecanismo para distribuição de conteúdo, inicialmente olhando para resultados acadêmicos, interessado em resolver o problema de acesso à montanha de dados que o CERN, um dos maiores laboratórios de física do mundo, gerava e gera até hoje e onde ele, Berners-Lee, trabalhava. Em 1990, ia ao ar o primeiro protótipo da web, que já tinha endereços (URLs), uma forma de representar “páginas” (HTML) e um protocolo para sua transferência (HTTP), usados até hoje.
Entre a largada da web e o tal primeiro blog foram sete longos anos, até porque o grande público só começou a ter acesso à rede em 1995, com o advento da internet comercial nos EUA e, logo depois, mundo afora. Não só a criatividade individual iria dar o ar de sua graça mas a rede passaria a ser um dos principais focos de atenção de investidores em todo mundo. De 1997 para cá, saímos de quase ninguém para cerca de um bilhão de usuários na web, quantidade e variedade de gente e interesses capaz de mudar, de verdade, o mundo e não só os processos de descoberta de conhecimento, como pensava Steve Harnad.
Outras mudanças, tão radicais quanto a web, jornais e revistas online e blogs aconteceram em outros tempos. Pra ficar numa, correlacionada à atual, é só olhar para o efeito da prensa de tipos móveis de Gutenberg. Antes dela, a principal forma de disseminação dos textos era através dos manuscritos copiados por monges, em conventos. O processo não era apenas lento e caríssimo, mas controlado pela igreja e poderosos do lugar e por isso a circulação de informação era muito restrita. Gutenberg começou imprimindo uma Bíblia (de 42 linhas por página) e um formulário para negócios (que se preenchia para pedir perdão de pecados), dando uma clara idéia dos potenciais usos de sua inovação.
Não por acaso, partiu dali o movimento que levaria Lutero a renovar a igreja e uma boa parte do reboot da Europa e do mundo, depois de séculos nas trevas. Há quem diga que quase tudo o que veio depois, inclusive a web, é puramente uma reconstrução digital do que Gutemberg fez, tal o impacto que sua tecnologia teve sobre a humanidade. Duvido. Gutemberg não pensou algo como a web e muito menos numa Bíblia interativa, com os leitores submetendo suas críticas para que ele, ao receber, reimprimisse o texto sagrado qual um wiki. Não dava para ver a wikipedia no horizonte de 1500. Talvez desse em 1750, mas essa já é outra história.
Hoje, deve haver perto de 100 milhões de blogs por aí, incluindo na conta colunas como esta, que podem ter comentários no rodapé (ou seja, é um clog, uma coluna-blog). Aqui estamos num portal, que tem uma editoria e as coisas mais formais; num blog como o meu, tudo é mais zoneado e, entre notas de duas ou três linhas, há textos de dez parágrafos, imagens, apresentações, o que me dá na telha publicar. Inclusive o carnaval de Pernambuco. Nos blogs do mundo, publica-se de tudo: muita coisa boa, mas bem menos do que as coisas ruins e, como se não bastasse, muita coisa que seus autores vão querer tirar do ar, no futuro, e não vão conseguir.
A “galáxia pós-Gutemberg” da web é digital em tempo real e possibilita a qualquer um copiar qualquer conteúdo aberto e guardá-lo ou republicar em outro lugar. Como vimos em incidentes vários, quando a informação cai na rede, fica na rede, Muda de lugar, passa um tempo desaparecida, mas estará sempre na rede. Dia destes encontrei (num site) cópias de emeios que mandei para uma lista em 1982! Emeios de um quarto de século...
A dinâmica da web (que Berners-Lee não deve ter visto, tampouco, dentro dos celulares) faz com que os acontecimentos do mundo real sejam noticiados na rede (e vistos nos leitores de RSS) imediatamente. É como se houvesse relatores em todos os lugares, o tempo todo. Milhões de paparazzos com seus fotologs, milhões de testemunhas delatando os fatos, por mais banais que sejam, por mais pessoais e íntimos que guardados devessem estar. Mas este vê-ouve-fotografa-escreve-grava-publica não é o que Harnad imaginava. Na web dele (como não poderia deixar de ser, porque de cientistas) as pessoas estariam publicando e discutindo coisa-com-coisa. No mundo aqui fora, o tempo de vida médio de um blog é muito pequeno e, nos que sobrevivem, há pouca coisa que valha a pena ler, ver ou ouvir. Vez por outra aparece alguma coisa interessante vinda de um lugar inusitado, o que dificilmente ocorre uma segunda vez.
Por quê? Porque criar (e transformar o resultado em mídia) dá trabalho, gasta tempo e energia, pesquisa, apuração, requer recursos, educação e treinamento de quem faz. E quem lê (ou vê e ouve) tem crivos, peneiras, gosta ou não disso ou daquilo e no fim, seja lá o que aprecie, mais sempre do que nunca quer algo bem feito. Não bem acabado, refinado ou rebuscado de acordo com sensos estéticos padronizados, mas de acordo com sua visão e entendimento de mundo. É por isso a vasta maoria dos blogs sempre terá pouquíssima audiência e interação, sem eliminar seu papel de repositório de pensamentos, relatos e reflexões individuais.
O mesmo vale para os jornais: a web transformou o mundo em ponto. A distância de um jornal de Taperoá até O Globo é nula. Quem tem web e lia o que saía n’O Globo, sobre a política nacional, no jornal de lá agora lê, na hora, no original. O jornal local passou a ser realmente local, quase um blog (profissional?) do lugar. E vai interessar aos locais (mesmo que longe) e aos de fora que tenham interesse lá. Vez perdida, se cair um meteoro nas Parelhas, o jornal de Taperoá, se estiver na web, será global.
E quase sempre, quando o Globo chegar lá, irá direto para a peixaria, pois todo mundo já terá lido o que interessa pela web. A máquina pós-Gutemberg da web torna a edição impressa de qualquer jornal desnecessária como mecanismo de transporte de informação; se eu quiser ler qualquer jornal em papel (e, de preferência, se ele existir em .pdf), trago pela rede e imprimo em casa. Ou as bancas, no futuro, imprimirão os jornais (qualquer jornal!) sob demanda, no local... Por isso que o editor do New York Times não sabe por quanto mais tempo vai continuar imprimindo o jornal : além de derrubar árvores para fazê-lo, o processo se torna cada vez mais economicamente inviável. Parar é só uma questão de tempo.
Enquanto este futuro não chega, partes dos jornais, online, se transformam em “blogs”. Entre parênteses, mesmo, porque são um diário de “ninguém”, passaram a ser o relato em tempo real dos acontecimentos, como se estivéssemos lendo a fita que saía dos teletipos das agências de notícias do passado. Estes “blogs”, feitos por alguns dos profissionais mais competentes da impresa brasileira e mundial, são resultado dos dilemas enfrentados pelos veículos “antigos” como jornais, revistas e TV, enquanto não completam seu redesenho para o futuro. Claro que queremos saber muitas coisas na hora em que acontecem (um canal factual, em tempo real). Mas também queremos uma análise de quem entende do assunto (a interpretação dos fatos, seus porquês, comos e conseqüências), o que gasta, como já dissemos, muita energia e (no mais das vezes) competência para desenvolver.
Competência que faltou ao colunista hoje, para escrever um texto mais curto, do tamanho que sempre sai neste “canal” (cerca de duas páginas em fonte Times New Roman, tamanho 12, nas medidas de Gutenberg). Problema zero pra quem escreve: a web não tem limite de tamanho. E grande para quem lê: quanto mais longo o texto, maior o esforço... Hora, pois, de chegar ao fim.
Antes, um lembrete: se você tem ou vai ter um blog, escreva com o olho no futuro. Não pense muitas vezes, pois vai lhe tolher a criatividade e ficar chato. Mas, ao invés de escrever tudo que lhe dá na telha, reflita pelo menos uma ou duas vezes sobre o que vai ser lido, e por quem, durante quanto tempo. Porque depois de publicar, vai estar lá para sempre. Ao contrário dos livros de Gutenberg, destruídos e queimados por censuras, seus textos, fotos e vídeos estarão guardados em algum drive, lhe esperando, no futuro.
Professor Titular de Engenharia de Software do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco em Recife, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) e engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Jornais muito antigos, no mundo inteiro, estão em sérias dificuldades. O editor do New York Times, pra citar um dos grandes, não sabe se continuará imprimindo o jornal daqui a três anos. O que os blogs têm a ver com isso?...
Maio é o mês das noivas e abril é o mês dos blogs. Há dez anos, num dia de abril, Dave Winer começou a publicar um diário em rede que viria a ser considerado por muitos o primeiro blog. Claro que ninguém nunca saberá exatamente quem foi o primeiro, até porque muitos dos milhões de usuários que tinham páginas na web em 1997 publicavam coisas que pareciam com o que hoje nós chamamos de blog. À maioria daqueles “sites”, porém, faltava interação, a possibilidade do leitor dar sua opinião no rodapé do texto do autor, transformando cada entrada em uma discussão. Mas tudo bem: quase a totalidade dos blogs de hoje também não tem interação, seja porque a audiência não se interessa em comentar ou porque o autor não se interessa ou não tem energia para manter um diálogo com seus leitores.
Mas daqui a pouco a gente chega no hoje. Como foi o ontem desta história? Meu ponto de partida pessoal é um artigo de Steve Harnad, publicado na revista Psychological Science em 1990 (Scholarly Skywriting and the Prepublication Continuum of Scientific Inquiry) enquanto ruía a cortina de ferro. Steve defende que os mecanismos acadêmicos de publicação de resultados das pesquisas também irão passar por uma “perestroika científica” e que tal revolução na produção de conhecimento iria ocorrer porque os mecanismos clássicos de discussão informal pré-publicação dos resultados, na forma de telefonemas, encontros, cartas e mesmo emeio (em uso na comunidade científica desde a década de 80) seriam ampliados “por um novo modo de relacionamento, incomparavelmente mais amplo e sistemático em sua distribuição, potencialmente global em escala e quase instantâneo em velocidade, ainda por cima sem precedentes nas formas de interação”.
A conclusão do texto era que a interação entre os pesquisadores, através de “pré-publicações” e sua discussão na rede iria “reestruturar substancialmente” o processo de descoberta de conhecimento, através de uma (poética...) “escrita coletiva (no céu) da rede”, em uma “galáxia pós-Gutenberg”, formada por nós, pessoas, habilitadas pela rede e seu software. Errado ele não estava e tinha visto, logo na partida, as possibilidades da web.
Talvez valha a pena lembrar que a web não nasceu por acaso. Sir Tim Berners-Lee concebeu a web (“teia”, como em “teia de aranha”), sobre a base da então elementar internet, como um mecanismo para distribuição de conteúdo, inicialmente olhando para resultados acadêmicos, interessado em resolver o problema de acesso à montanha de dados que o CERN, um dos maiores laboratórios de física do mundo, gerava e gera até hoje e onde ele, Berners-Lee, trabalhava. Em 1990, ia ao ar o primeiro protótipo da web, que já tinha endereços (URLs), uma forma de representar “páginas” (HTML) e um protocolo para sua transferência (HTTP), usados até hoje.
Entre a largada da web e o tal primeiro blog foram sete longos anos, até porque o grande público só começou a ter acesso à rede em 1995, com o advento da internet comercial nos EUA e, logo depois, mundo afora. Não só a criatividade individual iria dar o ar de sua graça mas a rede passaria a ser um dos principais focos de atenção de investidores em todo mundo. De 1997 para cá, saímos de quase ninguém para cerca de um bilhão de usuários na web, quantidade e variedade de gente e interesses capaz de mudar, de verdade, o mundo e não só os processos de descoberta de conhecimento, como pensava Steve Harnad.
Outras mudanças, tão radicais quanto a web, jornais e revistas online e blogs aconteceram em outros tempos. Pra ficar numa, correlacionada à atual, é só olhar para o efeito da prensa de tipos móveis de Gutenberg. Antes dela, a principal forma de disseminação dos textos era através dos manuscritos copiados por monges, em conventos. O processo não era apenas lento e caríssimo, mas controlado pela igreja e poderosos do lugar e por isso a circulação de informação era muito restrita. Gutenberg começou imprimindo uma Bíblia (de 42 linhas por página) e um formulário para negócios (que se preenchia para pedir perdão de pecados), dando uma clara idéia dos potenciais usos de sua inovação.
Não por acaso, partiu dali o movimento que levaria Lutero a renovar a igreja e uma boa parte do reboot da Europa e do mundo, depois de séculos nas trevas. Há quem diga que quase tudo o que veio depois, inclusive a web, é puramente uma reconstrução digital do que Gutemberg fez, tal o impacto que sua tecnologia teve sobre a humanidade. Duvido. Gutemberg não pensou algo como a web e muito menos numa Bíblia interativa, com os leitores submetendo suas críticas para que ele, ao receber, reimprimisse o texto sagrado qual um wiki. Não dava para ver a wikipedia no horizonte de 1500. Talvez desse em 1750, mas essa já é outra história.
Hoje, deve haver perto de 100 milhões de blogs por aí, incluindo na conta colunas como esta, que podem ter comentários no rodapé (ou seja, é um clog, uma coluna-blog). Aqui estamos num portal, que tem uma editoria e as coisas mais formais; num blog como o meu, tudo é mais zoneado e, entre notas de duas ou três linhas, há textos de dez parágrafos, imagens, apresentações, o que me dá na telha publicar. Inclusive o carnaval de Pernambuco. Nos blogs do mundo, publica-se de tudo: muita coisa boa, mas bem menos do que as coisas ruins e, como se não bastasse, muita coisa que seus autores vão querer tirar do ar, no futuro, e não vão conseguir.
A “galáxia pós-Gutemberg” da web é digital em tempo real e possibilita a qualquer um copiar qualquer conteúdo aberto e guardá-lo ou republicar em outro lugar. Como vimos em incidentes vários, quando a informação cai na rede, fica na rede, Muda de lugar, passa um tempo desaparecida, mas estará sempre na rede. Dia destes encontrei (num site) cópias de emeios que mandei para uma lista em 1982! Emeios de um quarto de século...
A dinâmica da web (que Berners-Lee não deve ter visto, tampouco, dentro dos celulares) faz com que os acontecimentos do mundo real sejam noticiados na rede (e vistos nos leitores de RSS) imediatamente. É como se houvesse relatores em todos os lugares, o tempo todo. Milhões de paparazzos com seus fotologs, milhões de testemunhas delatando os fatos, por mais banais que sejam, por mais pessoais e íntimos que guardados devessem estar. Mas este vê-ouve-fotografa-escreve-grava-publica não é o que Harnad imaginava. Na web dele (como não poderia deixar de ser, porque de cientistas) as pessoas estariam publicando e discutindo coisa-com-coisa. No mundo aqui fora, o tempo de vida médio de um blog é muito pequeno e, nos que sobrevivem, há pouca coisa que valha a pena ler, ver ou ouvir. Vez por outra aparece alguma coisa interessante vinda de um lugar inusitado, o que dificilmente ocorre uma segunda vez.
Por quê? Porque criar (e transformar o resultado em mídia) dá trabalho, gasta tempo e energia, pesquisa, apuração, requer recursos, educação e treinamento de quem faz. E quem lê (ou vê e ouve) tem crivos, peneiras, gosta ou não disso ou daquilo e no fim, seja lá o que aprecie, mais sempre do que nunca quer algo bem feito. Não bem acabado, refinado ou rebuscado de acordo com sensos estéticos padronizados, mas de acordo com sua visão e entendimento de mundo. É por isso a vasta maoria dos blogs sempre terá pouquíssima audiência e interação, sem eliminar seu papel de repositório de pensamentos, relatos e reflexões individuais.
O mesmo vale para os jornais: a web transformou o mundo em ponto. A distância de um jornal de Taperoá até O Globo é nula. Quem tem web e lia o que saía n’O Globo, sobre a política nacional, no jornal de lá agora lê, na hora, no original. O jornal local passou a ser realmente local, quase um blog (profissional?) do lugar. E vai interessar aos locais (mesmo que longe) e aos de fora que tenham interesse lá. Vez perdida, se cair um meteoro nas Parelhas, o jornal de Taperoá, se estiver na web, será global.
E quase sempre, quando o Globo chegar lá, irá direto para a peixaria, pois todo mundo já terá lido o que interessa pela web. A máquina pós-Gutemberg da web torna a edição impressa de qualquer jornal desnecessária como mecanismo de transporte de informação; se eu quiser ler qualquer jornal em papel (e, de preferência, se ele existir em .pdf), trago pela rede e imprimo em casa. Ou as bancas, no futuro, imprimirão os jornais (qualquer jornal!) sob demanda, no local... Por isso que o editor do New York Times não sabe por quanto mais tempo vai continuar imprimindo o jornal : além de derrubar árvores para fazê-lo, o processo se torna cada vez mais economicamente inviável. Parar é só uma questão de tempo.
Enquanto este futuro não chega, partes dos jornais, online, se transformam em “blogs”. Entre parênteses, mesmo, porque são um diário de “ninguém”, passaram a ser o relato em tempo real dos acontecimentos, como se estivéssemos lendo a fita que saía dos teletipos das agências de notícias do passado. Estes “blogs”, feitos por alguns dos profissionais mais competentes da impresa brasileira e mundial, são resultado dos dilemas enfrentados pelos veículos “antigos” como jornais, revistas e TV, enquanto não completam seu redesenho para o futuro. Claro que queremos saber muitas coisas na hora em que acontecem (um canal factual, em tempo real). Mas também queremos uma análise de quem entende do assunto (a interpretação dos fatos, seus porquês, comos e conseqüências), o que gasta, como já dissemos, muita energia e (no mais das vezes) competência para desenvolver.
Competência que faltou ao colunista hoje, para escrever um texto mais curto, do tamanho que sempre sai neste “canal” (cerca de duas páginas em fonte Times New Roman, tamanho 12, nas medidas de Gutenberg). Problema zero pra quem escreve: a web não tem limite de tamanho. E grande para quem lê: quanto mais longo o texto, maior o esforço... Hora, pois, de chegar ao fim.
Antes, um lembrete: se você tem ou vai ter um blog, escreva com o olho no futuro. Não pense muitas vezes, pois vai lhe tolher a criatividade e ficar chato. Mas, ao invés de escrever tudo que lhe dá na telha, reflita pelo menos uma ou duas vezes sobre o que vai ser lido, e por quem, durante quanto tempo. Porque depois de publicar, vai estar lá para sempre. Ao contrário dos livros de Gutenberg, destruídos e queimados por censuras, seus textos, fotos e vídeos estarão guardados em algum drive, lhe esperando, no futuro.
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